O Brasil, um país em guerra racial

O Brasil, um país em guerra racial
Protesto contra o racismo em São Gonçalo, no Rio, onde o adolescente João Pedro, de 14 anos, foi morto baleado pela polícia.
Foto: (AP Photo/Silvia Izquierdo)

O racismo organizou historicamente a desigualdade no Brasil e continua sendo o motor, a coluna principal  da organização brasileira. “O Brasil é assentado no racismo. Não existe Brasil sem racismo. O racismo organizou historicamente a desigualdade no Brasil e continua sendo o motor, a espinha dorsal da organização brasileira. O Brasil continua matando pessoas negras. A dinâmica escravocrata permanece na sociedade brasileira. É um país em permanente guerra racial”, é o que afirmou Douglas Belchior, professor de história e liderança da Coalizão Negra por Direitos, em uma entrevista recente. 

O Brasil segue escondendo a população negra e, quando não é possível, articula-se para nos eliminar a todo custo. No século 21, pretenso símbolo de futuro, nosso país continua a deixar a população negra liderando trágicas estatísticas, como a de mortes evitáveis, de desemprego e de analfabetismo². então não é pretensioso falar que há uma guerra racial,  porque as condições sociais que geram desigualdade e violência nunca mudam. Mesmo nos melhores momentos do país com implementação de  políticas públicas voltadas para a comunidade negra  colocadas em prática. Mesmo assim,  quando a gente olha para os índices, os que melhoram menos são os negros. Não adiantou e crescimento econômico, diminuição da pobreza e da miséria e de ascensão de uma classe trabalhadora para a classe média, você não conseguiu ver a população negra lá.

E para quem ainda duvida desta afirmativa, as taxas de homicídios de negros e negras, por exemplo, crescem a cada ano enquanto a taxa de não-negros diminui no mesmo recorte temporal . Movimentos racistas e conservadores parecem ganhar força nos últimos tempos, colocando em xeque a atual “democracia” brasileira. Diante de um cenário tão caótico e pouco promissor, o que fazer?

Bom, em uma carta ao Velho Guerreiro Chacrinha, a intelectual, ativista e antropóloga Lélia Gonzalez advertiu: “Mas nem por isso vamos ficar passivamente calados assistindo à decadência desse império romano de hoje que é a chamada civilização ocidental. Afinal, somos os bárbaros que o derrubarão. Por isso mesmo,  temos que assumir nossos bárbaros valores, lutar por eles e anunciar uma nova era. Nova era de que somos os construtores”.

Ou seja, a despeito de toda dor, mentira e retrocesso, haverá futuro e, se tudo sair como o esperado, será bem diferente do presente que insiste em manter a discriminação racial e seus fatais resultados.