Viva Lélia!!
Revolucionária, ativista, escritora, Independente e feminista negra. Antropóloga, filósofa e intelectual, Lélia d’Almeida Gonzalez, se estivesse viva, teria completado 87 anos, no dia 1° de fevereiro. Nascida em Belo Horizonte, no ano de 1935, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde graduou-se em História e Geografia, fez mestrado em Comunicação e doutorado em Antropologia Política. Atuou como professora em escolas de nível médio, faculdades e universidades.
Iniciou o primeiro curso de Cultura Negra na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Para Lélia Gonzalez, o conceito de cultura deveria ser pensado em pluralidade e servir como elemento de conscientização política. Neste sentido, por meio do curso de Cultura Negra, propunha uma análise da contribuição africana na formação histórica e cultural brasileira, Foi uma das fundadoras do Movimento Negro Unificado contra Discriminação e o Racismo (MNUCDR), em 1978, atualmente Movimento Negro Unificado (MNU), principal organização na luta do povo negro no Brasil e, integrou a Assessoria Política do Instituto de Pesquisa das Culturas Negras. Lélia também ajudou a fundar o Grupo Nzinga, um coletivo de mulheres negras e integrou o conselho consultivo da Diretoria do Departamento Feminino do Granes Quilombo.
Lelia esteve em todos os lugares! Lançou mão da psicanálise ao candomblé para explicar a cultura brasileira. Foi intelectual, ativista e política: participou da formação do PT, foi do PDT, atuou nas discussões sobre a Constituição de 1988 e integrou o primeiro Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, na mesma década. Correu o mundo e, ao representar o Brasil em debates sobre as condições de exploração e opressão dos negros e das mulheres em eventos nos Estados Unidos, na África e na América Latina, conjugou experiências e criou um marco conceitual para a compreensão da identidade brasileira e de seus irmãos de continente: a amefricanidade.
“Por que vocês precisam buscar uma referência nos Estados Unidos? Eu aprendo mais com Lélia Gonzalez do que vocês comigo”, resumiu Angela Davis, ícone do feminismo negro norte-americano, ao visitar o Brasil em 2019, num indicativo de que os brasileiros precisam reconhecer mais a sua própria pensadora, uma das pioneiras nas discussões sobre a relação entre gênero, classe e raça no mundo.
Por todos os lugares —sociais e geográficos— onde esteve em seus 59 anos de vida, Lélia Gonzalez deixou uma produção intelectual intensa e original, que mistura saberes e vivências de diversas áreas e marcou uma geração de militantes negras. Por tanto, te convido a ler Lélia. E te sugiro começar pela obra Por um feminismo afro-latino-americano, lançada pela editora Zahar. A obra reúne textos de 1975 a 1994, período que compreendeu o fortalecimento de movimentos sociais e a redemocratização, processos dos quais Gonzalez participou ativamente. Abrange ensaios acadêmicos, artigos para a grande imprensa e jornais alternativos, entrevistas e registros de palestras em diversos congressos internacionais —ela dominava o inglês, o francês e o espanhol.